Physis
2019
9 Impressões jacto de tinta sobre papel Hahnemühle Baryta
93 x 140 cm | 100 x 67 cm | 80 x 53 cm
No conjunto de fotografias que compõem Physis, Carina Martins afasta-nos do regime diurno determinado pela razão instrumental moderna, favorecendo uma digressão dos sentidos para além do imediatamente visível e levando-nos a percorrer uma certa geografia da noite e da penumbra. Entre o limiar urbano e civilizacional do antropoceno e o imenso território da bioesfera, a fotógrafa realiza uma investigação visual ao epicentro da luz nocturna e dos seus ecossistemas, elogiando a sombra dos lugares habitados por uma miríade de organismos minerais, vegetais e animais.
O desejo de aproximação à natureza em si reflecte-se no acto de fotografar enquanto possibilidade de mergulhar na frágil complexidade da interdependência da vida e, consequentemente, na imanência de uma estética ancorada na dimensão ecológica da consciência artística. No entanto, se quisermos adoptar uma perspectiva intrínseca à ecologia profunda, ou seja, se nos quisermos aproximar da ‘natura naturans’, uma representação pictórica (picture) da natureza de pouco serve. Confrontamo-nos assim com uma aporia ou descrença paradoxal: como produzir uma fotografia da “coisa em si”, ou do irrepresentável? Que não se confine à mera figuração de um objecto, e que ofereça ao observador a possibilidade de se confrontar com outro ser, i.e., de sujeito para sujeito.
Texto: Rui Ibañez Matoso