

Eikasia (#1, #2)
2017
2 Impressões jacto de tinta sobre papel Fine Art
53 x 80 cm
Na alegoria de Platão como no mito de Perseu, o reflexo é ao mesmo tempo imagem e realidade. Ambas as narrativas transportam em si mesmas a ideia de mecanismo de transformação do mundo, conferindo-lhe o juízo do bem e do mal e a ilusão da vida e da morte, dicotomias que inevitavelmente nos condicionam e toldam a percepção das coisas.
O processo de isolamento, desconstrução, descontextualização da realidade remete na verdade para uma estratégia de redução e eventualmente de erradicação dos elos que com ela estabelecemos, criando desse modo condições para que uma nova identidade possa emergir - será a imagem real? A busca por referências que nos permitam interpretar de volta a imagem numa linguagem familiar resulta num exercício inconsequente, ao invés, de imagens apenas resultam outras imagens, numa sequência aparentemente interminável.
As possibilidades da utilização do reflexo como dispositivo de transformação e representação revestem-se na
prática artística contemporânea, simultaneamente de profunda ambiguidade e clareza. A imagem é, ao mesmo tempo, um
reflexo do que se propõe representar e reflexo de si mesma. A sua procura é também o que nos move quando nos
posicionamos no papel de observador.
Será o nosso reflexo que lá encontramos? Em última instância a satisfação vã de dar um qualquer sentido provisório. Não conhecemos a totalidade do espaço, nem do tempo. Talvez apenas, entre a opacidade e a precisão, o orgânico e o artificial, a matéria e a energia, o real e a sua transformação, possamos descobrir um lugar que na verdade não existe.
Texto: Luís Barata

Eikasia (#3)
2017
1 Impressão jacto de tinta
43 x 32 cm
